IBI/IBC: Muito além de uma Escola
Quando a pandemia da Covid-19 chegou ao Brasil, e o isolamento social passou a ser adotado, a primeira coisa que me veio à mente foi, como ficarão as comemorações do Centenário do IBI/IBC, uma escola fundada em 20/05/1920 pelos missionários batistas americanos, da Missão de Richmond (Virginia), na minha cidade, Corrente no Piauí e que teve dois nomes ao longo desses 100 anos. Primeiro como Instituto Batista Industrial e com a reforma da educação em 1970, passou a ser Instituto Batista Correntino.
Faríamos uma linda festa no dia de hoje, mas infelizmente tivemos que adiá-la.
Só que nenhuma pandemia impedirá nossas homenagens e comigo não seria diferente.
Para explicar a importância do IBC na minha vida, volto às décadas de 1960 e 70, quando ali fui estudante.
Meu pai, Hélio Paranaguá, recebeu da Missão de Richmond a incumbência de ser o diretor geral, tendo como vice o missionário Jimmy Dale Carter. Era a primeira vez que um brasileiro assumia a direção do ainda IBI.
O colégio foi construído fora da cidade, com muito espaço, o Rio Corrente passando dentro da área fazendo pequenas cachoeiras, que se tornaram tradição para os pic-nics da comunidade escolar. Além dos prédios com salas de aula, atendendo do jardim de infância à Escola Normal, e posteriormente ao curso de Técnicas Agrícolas, de ter um excelente auditório chamado de Salão Nobre e biblioteca, havia ainda internato feminino e masculino, refeitório, campo de futebol, quadra de basquete e de vôlei, as casas dos missionários, uma pista de pouso com hangar para abrigar os aviões da Missão, marcenaria/serraria para construção do mobiliário escolar, cortume para confecção de selas e arreios para os vaqueiros que trabalhavam nas diversas fazendas que faziam parte do patrimônio do colégio, fruteiras e mata de árvores da região, até hoje preservada.
Desbravar aquele espaço, era o sonho de 10 em cada 10 alunos.
Como o colégio não tinha fins lucrativos e a mensalidade era subsidiada, a complementação para a folha de pagamento de professores e demais funcionários, bem como despesas com manutenção da escola, eram complementadas pela venda de gado e produção de leite.
Durante muitas décadas, era a única escola da região, atraindo para lá estudantes de diversas cidades do Piauí, Bahia e até do Maranhão.
Muitos desses alunos, por serem carentes, eram bolsistas.
Sendo um colégio confessional, o ensino da bíblia era presente nas aulas de educação religiosa e nas preleções semanais, como chamávamos, e a qualidade do ensino sempre foi priorizada, ao ter no seus quadros de profissionais, uma equipe de professores com excelente formação.
Quem passou pelos bancos dessa instituição, agora secular, que não sente saudades das comemorações cívicas, das peças teatrais que eram apresentadas para a população da cidade?
As comemorações pelo Dia do Estudante, e as competições esportivas?
Os banquetes de final de ano, a alegria da chegada da primavera e a explosão de flores no pátio, a Alameda das Mungubeiras, a disciplina rígida, as aulas de canto orfeônico e o tão esperado Desfile Cívico de 7 de setembro?
"Laços fora, soldados!
Pelo meu sangue, pela minha honra,
juro fazer a liberdade do Brasil.
Independência ou morte!”
D. Pedro I
Depois de uma noite insone, causada pela grande expectativa do desfile, mal o dia raiava e lá estava eu, com meu uniforme de gala, da fanfarra, de baliza ou do pelotão de ginástica rítmica, não importava o papel a desempenhar, enfim, o grande dia chegara...
Meu pai, Dr. Hélio Paranaguá, diretor geral à epoca e minha mãe, Dona Sônia, diretora da Escola Normal do IBC, saiam bem cedo de casa e lá íamos nós, a família toda, rumo ao Alto Fogoso, o ponto mais alto entre o colégio e a cidade, onde se dava a concentração.
Como os ensaios iniciavam em meados de agosto e iam até a antevéspera, 05 de setembro, já sabíamos a ordem de cada pelotão, ficando apenas para o dia, o encaixe dos carros alegóricos, que em geral vinham atrás, encerrando o desfile.
Rapidamente, os pelotões eram formados, os alunos perfilados, meu pai do alto do seu cavalo Mangalarga marchador, chamado Presidente, dava a ordem para o corneteiro e então a fanfarra dava o ritmo para o início do desfile.
O toque da corneta arrepiava meu corpo inteiro e calava fundo na alma, era como se aquele desfile cívico fosse a grande maneira de demonstrar o meu grande amor pelo Brasil.
Alguns podem achar que era militaresco, ufanista...não importa...era antes de tudo um grande congraçamento.
Ali eu aprendi a amar meu país e a nossa bandeira.
Hoje, estou com meus pensamentos voltados para o Alto Fogoso, os banhos na cachoeira, ouvirei com o coração o som dos alunos cantando em vozes no salão nobre, o barulho do avião que levava os pacientes graves da cidade de Corrente para os grandes centros, em busca de tratamento e certamente ouvirei o toque da corneta para iniciarmos o desfile.
Devo ao IBI, hoje IBC, a profissão que abracei.
Agradeço a todos os meus mestres e funcionários daquela instituição, pela cidadã que me tornei.
Gratidão eterna pelos missionários norte americanos que deixaram o conforto do seu país, para de forma abnegada, penetrar no Brasil profundo e levar uma educação de qualidade.
E como diz na letra do Hino do antigo Ginásio:
"Viva o IBI, como é bom aqui,
Nunca mais o esqueceremos
Nunca mais nos deixará
Viva o IBI, como é bom aqui
Seus ensinos levaremos
Sempre nosso ele será."
Autora: Vica Press
Autorização para publicação aqui no portal Corrente e Noticia da Direção do IBC